quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Eu troco Luan Santana...*

Desde 2004, ano em que ainda me encontrava cursando a Graduação, não havia concursos para o meu cargo (Professor 1 - Educação Física) para o município onde nasci, estudei, fui criado e até hoje resido, conhecido internacionalmente como a Cidade Maravilhosa. Enfim, em 2010 o concurso foi realizado e obtive êxito. No dia 25 de outubro, tomei posse e sou desde então funcionário público da capital fluminense.

No final de semana, folheando as páginas do jornal, deparo-me com a notícia de que a Prefeitura do Rio de Janeiro, atualmente gerida por Eduardo Paes/PMDB, realizará no próximo sábado um evento de final de ano(1).

A primeira questão a se levantar é que tal evento não permitirá a presença e a participação de todo o seu corpo de trabalhadores. Quem estivesse interessad@ deveria participar de um sorteio, que contemplaria 15.000 funcionári@s, cada um(a) destes(as) podendo levar acompanhante. O show, que ocorrerá na Praça da Apoteose, terá como contratado o cantor sertanejo Luan Santana, cuja existência soube há poucos meses. E aí está a segunda e principal questão, que me incentivou a tecer alguns comentários:

a) a maioria do público-alvo do artista certamente está concentrada na faixa etária abaixo dos 18 anos, ou seja, público não composto por funcionários públicos;
b) além de não consultar o que seus funcionários gostariam de ganhar como presente de Natal, a Prefeitura escolhe, a seu critério e arbitrariamente, quem será o artista; contratando-o por intermédio da empresa Cunha Locação de Equipamentos, propriedade do produtor Daniel Alves;
c) o total de gastos com o evento custará cerca de R$1.300.000,00 aos cofres públicos(2);
d) apenas o cachê e gastos de deslocamento de Luan Santana custarão aproximadamente R$525.000,00(2).

Recentemente, alavancado por uma ascensão meteórica à fama, o referido cantor adquiriu um jato particular, com valor avaliado em R$3 milhões, para poder realizar suas dezenas de shows e engordar sua conta bancária durante cada mês(3). E agora vemos a Prefeitura do Rio de Janeiro auxiliar nesse processo, prefeitura esta cujo professor I precisaria trabalhar numa matrícula de 16h semanais durante quase 389 meses ou cerca de 32 anos e meio para receber a quantia que Luan Santana receberá por algumas horas. Enquanto o jovem se desloca de jatinho, o professorado enfrenta salas de aula superlotadas, violência exacerbada, deslocamento por transporte público precário, engarrafamentos monstruosos e percebendo o desmantelamento da Educação Pública por meio da desvalorização do magistério, da Educação à distância e da privatização que favorece o terceiro setor.

Pois, quem tem algo a comemorar nesse final de ano?

Não tenho dúvidas de que a quantia de R$1.300.000 poderia e deveria ser melhor aplicada. Haverá alguma relação entre o governo municipal e/ou seu partido/coligação e a empresa de Daniel Alves? Enquanto essa grana, vinda dos impostos da população carioca, vai para os ares (a jato), a dita Cidade Maravilhosa transcende a desigualdade apresentada acima entre professores e Luan Santana: os contrastes são notados em cada itinerário que realizamos. Esse é o enredo desejado e necessário ao capital, modelo que devemos enfrentar, combater e superar! Não é possível que continuemos aceitando o enriquecimento de uma minoria a partir do trabalho da maioria.

Portanto, compartilho essa angústia para afirmar categoricamente que eu troco o show de Luan Santana por mais investimentos públicos na Saúde, na Educação, na Habitação etc. públicas Assim como eu troco todos esses Luans Santanas que se enriquecem às custas da classe trabalhadora por uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres, sem fome, miséria, desemprego nem desigualdade social!



*Gabriel Marques
Professor de Educação Física da rede municipal do Rio de Janeiro

Um comentário:

  1. Os governantes gastam milhões do dinheiro público com Luan Santana, Roberto Carlos, aumentos dos seus próprios salários, mas a educação pública é um gasto, um peso que precisa sofrer cortes. Essa é a realidade que vivemos hoje, de avanço das políticas neoliberais nos governos municipais, estaduais e governo federal. Implementam cortes, privatização e terceirização. Lutar para impedir esse avanço neoliberal que destrói os serviços públicos é nosso dever.

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