sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Carta d@s Educador@s do Colégio Municipal Botafogo


Macaé, outubro de 2012
Colégio Municipal Botafogo

CARTA D@S EDUCADOR@S DO COLÉGIO MUNICIPAL BOTAFOGO

            Em nossa instituição de ensino, podemos observar uma heterogeneidade do corpo docente no que tange às experiências de vida e profissional e ao tempo de vínculo com a rede municipal e com o próprio Colégio. Por outro lado, de diferentes formas, fomos muito bem recepcionados e acolhidos neste Colégio, que é uma referência para a comunidade ao redor, alijada de diversos serviços públicos de qualidade e das riquezas produzidas pela ‘capital nacional do petróleo’. A maneira gentil, honesta, transparente e dialógica com a qual a Direção nos recebeu possibilitou e possibilita, paulatinamente, a homogeneidade entre o corpo docente relacionada à satisfação em sermos lotados nesta Unidade, mesmo com os diversos desafios existentes diante das mazelas sociais causadas por uma distribuição extremamente desigual de investimentos nesta cidade. Combinando a receptividade no Colégio ao sonho coletivo de trabalharmos em busca de uma Educação Pública, Gratuita, Laica e de Qualidade, que coloque os conhecimentos a serviço da Humanidade, temos o dever de prezar por nosso compromisso pedagógico e nos dedicar às melhorias necessárias para os estudantes, principalmente.

            Feita esta introdução, é preciso situarmos o solo conturbado sobre o qual pisamos. Nosso público-alvo é composto por estudantes que vivem numa comunidade sem saneamento básico adequado; estudantes com graves problemas familiares, como alcoolismo, uso de drogas ou violência; estudantes cujas famílias vêm de diversas partes do Rio e de outros estados do país em busca de um lugar ao Sol em Macaé; estudantes com pais muito jovens e imaturos porque tiveram seus filhos precocemente; estudantes com pais desempregados, analfabetos ou até mesmo assassinados pelo poderio bélico oriundo dos confrontos entre a polícia e o tráfico etc. Nenhuma pessoa com conhecimentos básicos de Educação é capaz de afirmar que essa realidade não influencia decisivamente sobre o cotidiano de nossas salas de aula! O quadro apresentado parece assustador e realmente o é, tanto que antes de nossas escolhas muitas estórias foram relatadas e recebemos conselhos para não trabalhar no Botafogo. Com a perspectiva de que nada deve parecer impossível de mudar, registramos que temos sonhos a construir a fim de garantir um futuro diferente para nossas crianças e nossos jovens.

            Diante do exposto, é de nosso desejo que a Secretaria Municipal de Educação de Macaé não se submeta aos atuais ditames das políticas educacionais em nosso país, que enxergam a Educação como números e estatísticas em vez de trabalhar com o processo, com os conflitos e com os avanços existentes. Não queremos que nosso Colégio seja simplesmente julgado por índices ou fórmulas elaboradas por pessoas que cada vez mais se distanciam da realidade concreta de uma ESCOLA. Ao mesmo tempo, queremos o aumento de investimentos para a infraestrutura, pois se a visão da Secretaria é que o estudante é o centro, o alvo, o fim da intervenção, suas reivindicações precisam ser atendidas. Queremos recursos para a compra dos materiais que muitas vezes professores e professoras retiram do próprio bolso para inovar e criar formas atrativas para garantia do aprendizado; queremos recursos para reforma, reparos e pintura adequados no prédio; queremos recursos públicos para alavancar os excelentes projetos como os de Judô e Dança; queremos recursos para transportar os estudantes para atividades pedagógicas fora do bairro e da própria cidade; queremos recursos para um laboratório de ciências, uma sala de Artes Visuais e uma quadra poliesportiva coberta etc. Enfim, queremos que a Prefeitura tire do papel os slogans de que “A energia do futuro vem da Educação” e “Educação: nossa maior riqueza”, pois não desejamos propaganda, mas ações concretas que possibilitem um real desenvolvimento de nossas crianças e jovens em um dos municípios mais ricos do país.

            Para finalizar, o espectro da obrigatoriedade dos três dias para os professores C reaparece às vésperas de finalizarmos o ano letivo. As tentativas de relacionar a quantidade de dias de trabalho do professor C aos índices supracitados são desonestas e descabidas! Precisamos levar em consideração que o resultado do processo pedagógico é uma síntese de múltiplas determinações. Em nosso Colégio, passa pelo diálogo transparente entre a Direção e o corpo docente a tônica para os processos decisórios. As mobilizações de rua e as paralisações da categoria em 2011 explicitaram à Secretaria o equívoco da Portaria que trazia tal obrigatoriedade e a Secretaria modificou seu teor.

Portanto, ratificamos que não é pela quantidade de dias em que o servidor cumpre sua carga horária que avançamos nas melhorias pela Educação. Ratificamos que, nesta instituição, discutimos e nos esforçamos coletivamente para avançar nas práticas pedagógicas mesmo diante de tantas adversidades. Ratificamos que somos contrários a quaisquer medidas unilaterais e arbitrárias que sejam tomadas a fim de padronizar na rede a organização do quadro de horários dos servidores. Ratificamos que queremos um aumento significativo de investimento público nas escolas, atingindo os estudantes e valorizando os servidores. Ratificamos que o corpo docente do Colégio Municipal Botafogo apoiará e agirá de acordo com as decisões tomadas em nossos espaços, garantindo nossa autonomia e as nossas especificidades.

Assinam este documento:

Gabriel Rodrigues Daumas Marques – Professor C – Educação Física
Joanna de Angelis – Professora C – Educação Física
Aline Cordeiro Campos Neves – Professora C – Matemática
Marcelly Maria dos Santos Brito – Professora C – Ciências
Aniela Amorelli – Professora C – Língua Inglesa
Iomara Barros Dantas da Silva – Professora C – Geografia
Lucia Maria Tavares Q. R. da Silva – Professora C – Artes
Maria da Conceição – Professora C – Língua Inglesa
Rubens Francisco da Silva – Professor C – Ciências
Wellington Luís do Couto Martins – Professor C – Geografia
Manoelli Garcia – Professora C – Educação Física
Maria Teresa – Professora C – História
Mariana Vilardo Freire – Professora C – Educação Física
Diorges Gonçalves – Professor C – Língua Portuguesa
Fabiana Leite da Rocha Cruz – Professora C – Artes
Queila Lima de Gouvea – Professora C – História
Luciana Barbosa Ferreira – Professora C – Língua Portuguesa
Ricardo da C. Ribeiro – Professor C – Ciências
Rosilene Ferreira Fidelis – Professora C – Matemática
Aline Mesquita Carvalho – Professora C – Língua Portuguesa
Leonardo Vieira Bittencourt – Professor C – Matemática
Leonardo Rodrigues Cruz – Professor C – Educação Física
Gabriel Verani – Professor C – Artes
Pablo Ramos Labre – Professor C – Matemática
Nely Menezes Barros – Professora C – Língua Portuguesa
Claudia Maria M. C. da Rocha – Professora A
Rosilene A. do Nascimento – Orientadora Educacional
Jonia Maria Souza da Silva – Professora C – Língua Inglesa
Mick Xavier Silva – Professor C – Matemática
Daniele Cozentino – Professora C – Matemática
Felipe Loureiro – Professor C – História
Victor Falcão Pereira – Professor C – Geografia
José Henrique Benjuir – Professor C – Matemática