Macaé, outubro de 2012
Colégio Municipal Botafogo
CARTA D@S EDUCADOR@S
DO COLÉGIO MUNICIPAL BOTAFOGO
Em
nossa instituição de ensino, podemos observar uma heterogeneidade do corpo
docente no que tange às experiências de vida e profissional e ao tempo de vínculo
com a rede municipal e com o próprio Colégio. Por outro lado, de diferentes
formas, fomos muito bem recepcionados e acolhidos neste Colégio, que é uma
referência para a comunidade ao redor, alijada de diversos serviços públicos de
qualidade e das riquezas produzidas pela ‘capital nacional do petróleo’. A
maneira gentil, honesta, transparente e dialógica com a qual a Direção nos
recebeu possibilitou e possibilita, paulatinamente, a homogeneidade entre o
corpo docente relacionada à satisfação em sermos lotados nesta Unidade, mesmo
com os diversos desafios existentes diante das mazelas sociais causadas por uma
distribuição extremamente desigual de investimentos nesta cidade. Combinando a
receptividade no Colégio ao sonho coletivo de trabalharmos em busca de uma
Educação Pública, Gratuita, Laica e de Qualidade, que coloque os conhecimentos
a serviço da Humanidade, temos o dever de prezar por nosso compromisso
pedagógico e nos dedicar às melhorias necessárias para os estudantes,
principalmente.
Feita
esta introdução, é preciso situarmos o solo conturbado sobre o qual pisamos.
Nosso público-alvo é composto por estudantes que vivem numa comunidade sem
saneamento básico adequado; estudantes com graves problemas familiares, como
alcoolismo, uso de drogas ou violência; estudantes cujas famílias vêm de
diversas partes do Rio e de outros estados do país em busca de um lugar ao Sol em Macaé; estudantes com
pais muito jovens e imaturos porque tiveram seus filhos precocemente;
estudantes com pais desempregados, analfabetos ou até mesmo assassinados pelo
poderio bélico oriundo dos confrontos entre a polícia e o tráfico etc. Nenhuma
pessoa com conhecimentos básicos de Educação é capaz de afirmar que essa
realidade não influencia decisivamente sobre o cotidiano de nossas salas de
aula! O quadro apresentado parece assustador e realmente o é, tanto que antes
de nossas escolhas muitas estórias foram relatadas e recebemos conselhos para
não trabalhar no Botafogo. Com a perspectiva de que nada deve parecer
impossível de mudar, registramos que temos sonhos a construir a fim de garantir
um futuro diferente para nossas crianças e nossos jovens.
Diante
do exposto, é de nosso desejo que a Secretaria Municipal de Educação de Macaé
não se submeta aos atuais ditames das políticas educacionais em nosso país, que
enxergam a Educação como números e estatísticas em vez de trabalhar com o
processo, com os conflitos e com os avanços existentes. Não queremos que nosso
Colégio seja simplesmente julgado por índices ou fórmulas elaboradas por
pessoas que cada vez mais se distanciam da realidade concreta de uma ESCOLA. Ao
mesmo tempo, queremos o aumento de investimentos para a infraestrutura, pois se
a visão da Secretaria é que o estudante é o centro, o alvo, o fim da
intervenção, suas reivindicações precisam ser atendidas. Queremos recursos para
a compra dos materiais que muitas vezes professores e professoras retiram do
próprio bolso para inovar e criar formas atrativas para garantia do
aprendizado; queremos recursos para reforma, reparos e pintura adequados no
prédio; queremos recursos públicos para alavancar os excelentes projetos como
os de Judô e Dança; queremos recursos para transportar os estudantes para
atividades pedagógicas fora do bairro e da própria cidade; queremos recursos
para um laboratório de ciências, uma sala de Artes Visuais e uma quadra
poliesportiva coberta etc. Enfim, queremos que a Prefeitura tire do papel os
slogans de que “A energia do futuro vem da Educação” e “Educação: nossa maior
riqueza”, pois não desejamos propaganda, mas ações concretas que possibilitem
um real desenvolvimento de nossas crianças e jovens em um dos municípios mais
ricos do país.
Para
finalizar, o espectro da obrigatoriedade dos três dias para os professores C
reaparece às vésperas de finalizarmos o ano letivo. As tentativas de relacionar
a quantidade de dias de trabalho do professor C aos índices supracitados são
desonestas e descabidas! Precisamos levar em consideração que o resultado do
processo pedagógico é uma síntese de múltiplas determinações. Em nosso Colégio,
passa pelo diálogo transparente entre a Direção e o corpo docente a tônica para
os processos decisórios. As mobilizações de rua e as paralisações da categoria
em 2011 explicitaram à Secretaria o equívoco da Portaria que trazia tal obrigatoriedade
e a Secretaria modificou seu teor.
Portanto,
ratificamos que não é pela quantidade de dias em que o servidor cumpre sua
carga horária que avançamos nas melhorias pela Educação. Ratificamos que, nesta
instituição, discutimos e nos esforçamos coletivamente para avançar nas
práticas pedagógicas mesmo diante de tantas adversidades. Ratificamos que somos
contrários a quaisquer medidas unilaterais e arbitrárias que sejam tomadas a
fim de padronizar na rede a organização do quadro de horários dos servidores.
Ratificamos que queremos um aumento significativo de investimento público nas
escolas, atingindo os estudantes e valorizando os servidores. Ratificamos que o
corpo docente do Colégio Municipal Botafogo apoiará e agirá de acordo com as
decisões tomadas em nossos espaços, garantindo nossa autonomia e as nossas
especificidades.
Assinam este documento:
Gabriel Rodrigues
Daumas Marques – Professor C – Educação Física
Joanna de Angelis –
Professora C – Educação Física
Aline Cordeiro Campos
Neves – Professora C – Matemática
Marcelly Maria dos
Santos Brito – Professora C – Ciências
Aniela Amorelli –
Professora C – Língua Inglesa
Iomara Barros Dantas da
Silva – Professora C – Geografia
Lucia Maria Tavares Q.
R. da Silva – Professora C – Artes
Maria da Conceição –
Professora C – Língua Inglesa
Rubens Francisco da
Silva – Professor C – Ciências
Wellington Luís do
Couto Martins – Professor C – Geografia
Manoelli Garcia –
Professora C – Educação Física
Maria Teresa –
Professora C – História
Mariana Vilardo Freire
– Professora C – Educação Física
Diorges Gonçalves –
Professor C – Língua Portuguesa
Fabiana Leite da Rocha
Cruz – Professora C – Artes
Queila Lima de Gouvea –
Professora C – História
Luciana Barbosa
Ferreira – Professora C – Língua Portuguesa
Ricardo da C. Ribeiro –
Professor C – Ciências
Rosilene Ferreira
Fidelis – Professora C – Matemática
Aline Mesquita Carvalho
– Professora C – Língua Portuguesa
Leonardo Vieira
Bittencourt – Professor C – Matemática
Leonardo Rodrigues Cruz
– Professor C – Educação Física
Gabriel Verani –
Professor C – Artes
Pablo Ramos Labre –
Professor C – Matemática
Nely Menezes Barros –
Professora C – Língua Portuguesa
Claudia Maria M. C. da
Rocha – Professora A
Rosilene A. do
Nascimento – Orientadora Educacional
Jonia Maria Souza da
Silva – Professora C – Língua Inglesa
Mick Xavier Silva –
Professor C – Matemática
Daniele Cozentino –
Professora C – Matemática
Felipe Loureiro –
Professor C – História
Victor Falcão Pereira –
Professor C – Geografia
José Henrique Benjuir –
Professor C – Matemática