O Movimento
Sindicalismo Militante atua no SEPE desde 2009. Entendemos o processo eleitoral
para a escolha dos dirigentes do sindicato um momento necessário para o debate
de ideias e propostas políticas que contribuam para fortalecer o nível de
consciência dos trabalhadores organizados na luta para a construção de uma
educação pública, gratuita, de qualidade e a serviço da classe trabalhadora.
A atual
conjuntura é de aprofundamento da crise do sistema capitalista, o que cada vez
mais comprova a sua inviabilidade para a humanidade. Essa crise não é apenas
uma crise de relações financeiras e comerciais, mas que vem a afetar todos os
aspectos da vida humana: exploração desmesurada dos recursos ambientais, o que
acarreta em uma série de problemas como as perdas da biodiversidade, a
gravíssima crise hídrica e energética que vivenciamos; fortalecimento do
capital financeiro, ou seja, do poder dos bancos, com os aumentos das taxas de
juros, que culminam no endividamento e pauperização do conjunto da classe
trabalhadora, assim como o endividamento dos Estados em virtude das políticas
de ajustes às dívidas públicas; mediante a lógica inerente de manutenção e
expansão das taxas de lucro dos empresários, há a massificação do desemprego
para a classe trabalhadora por conta das políticas de cortes de gastos das
empresas, aumentando as parcelas miseráveis da população mundial, situação que
chega até o centro do capitalismo, com a substantiva e crescente erosão dos
Estados de Bem-Estar Social.
Em virtude
desse cenário, o Brasil, um país de capitalismo dependente que compõe a
periferia do capital, tem os efeitos da crise ainda mais agravados. Após um
período de crescimento em virtude de uma conjuntura mundial favorável, que
favoreceu a realização de políticas sociais como o Bolsa-Família, Minha Casa,
minha vida, aumentos reais do salário mínimo, mediante o crescimento das
importações de commodities, como gêneros alimentícios entre outras riquezas
naturais e produtos de baixo desenvolvimento tecnológico, além de uma grande entrada
de Investimentos do capital externo, com a crise internacional os mercados
externos tornam-se menos receptivos, e os capitais externos passam a evadir do
país em busca de outros locais de realização, o que diminui consideravelmente a
receita produzida e retida no Brasil, o grande exemplo é a diminuição dos
recursos oriundos dos royalties do petróleo, em que o preço do barril diminui
constantemente. Dessa forma, o Estado brasileiro se encontra em uma
encruzilhada entre atuar para salvaguardar os exorbitantes do lucro do capital,
ou avançar em reformas estruturais a serviço da classe trabalhadora.
A resposta
foi muito clara, a defesa desesperada dos lucros dos capitalistas, o que
ocorreu a partir de: realização de uma série de políticas de ajustes fiscais,
comprometendo seriamente áreas como educação, habitação, moradia e saúde, com
cortes de verbas que precarizam ainda mais esses áreas; aumento de impostos
como o preço de luz, gasolina, transporte, que atingem diretamente os
trabalhadores; realização de uma política recessiva de aumento da taxa de
juros, o que aumenta o endividamento dos trabalhadores e sua dependência para
com o capital financeiro, em especial os bancos, que só se fortalece e aumenta
suas taxas de lucro; ampliação da política de superávit primário, com a
prioridade total e absoluta do pagamento da dívida pública, promovendo
políticas de arrocho salarial para os servidores públicos; crescimento
galopante do desemprego; privatização de serviços públicos em áreas
estratégicas como ferrovias, rodovias, aeroportos e portos, além de
privatização interna das Universidades e hospitais públicos; regulamentação da
terceirização, precarizando ainda mais o trabalho e a vida da classe
trabalhadora em prol da redução de custos dos capitalistas. Já no Estado do Rio
de Janeiro, houve uma redução no orçamento de 2015 em R$2,6 bilhões nas áreas
sociais, orquestrada pelo Governador Pezão (PMDB), que, com pouco tempo de
mandato, anunciou um grande corte na Educação, no valor de 547 milhões – o
setor que sofrerá mais cortes esse ano.
Diante desse
cenário desolador, em que a esquerda combativa não consegue dar uma resposta
autônoma e organizativa da classe trabalhadora, a direita e a extrema direita
se aproveitam do vácuo junto às massas, aproveitando-se de sua revolta
canalizada por conta da precarização de sua vida, além da sensação de
insegurança e ausência de perspectivas de melhoras, e aproveita para colocar
paulatinamente junto à sociedade uma série de pautas conservadoras como a
redução da maioridade penal, o combate aos movimentos LGBT, negro, quilombola e
indígena. Assim, a direita e os setores mais reacionários da sociedade
brasileira aparecem como reais “salvadores da pátria”, defensores dos “valores
democráticos, da verdade e da corrupção”, quando todos nós sabemos que são eles
os responsáveis por essa crise, articulados aos grandes empresários,
empreiteiros e bancários que hoje ditam as normas do jogo.
Entendemos
que esse conjunto de medidas adotadas pelo governo federal, e seguida fielmente
pelo governo estadual e os governos municipais, tendem a precarizar ainda mais
a vida da classe trabalhadora, o que se intensifica no campo da educação, a
área que, coincidentemente ou não, foi a que mais sofreu os cortes de investimentos.
Está em vigor um grande processo de desestruturação e sucateamento da educação
pública: salas superlotadas, escolas com estrutura física destruída, carência de profissionais concursados e
nenhuma valorização do magistério e das demais carreiras relacionadas à
educação – frutos de uma política de retirada de direitos dos trabalhadores que
atuam nas escolas públicas das redes municipais e estadual do Rio de Janeiro,
que é acentuada com a política nacional direcionada pelo MEC de implementação
do sistema meritocrático através das avaliações externas, cadernos pedagógicos,
bonificações etc. Essa soma de elementos explica porque a cada dia que passa
mais profissionais se afastam da área da educação, seja por vontade, seja por
graves motivos de saúde, o adoecimento é uma realidade cruel na vida dos
profissionais da educação.
Diante desse
cenário, compreendemos a necessidade de uma unidade dos trabalhadores e dos
demais segmentos combativos de nossa sociedade, consolidando uma atuação
política consequente. Nesse ínterim, o papel do sindicato é fundamental na
organização e mobilização dos trabalhadores, o que só pode ocorrer com: um
grande e sistemático trabalho de base, que consiga formar, envolver e organizar
as ações da categoria; a adoção de uma posição classista, sem qualquer
atrelamento ao governo ou a empresários, e buscando a articulação junto aos
outros sindicatos e movimentos sociais combativos, para que se possa construir
um enfrentamento não apenas para evitar a retirada em vigor dos direitos da classe
trabalhadora, mas para avançar na conquista de mais direitos e na luta por
educação pública e gratuita a serviço da classe trabalhadora, assim como de uma
sociedade que supere o modelo capitalista atual.
Nesse
sentido, nessas eleições, é importante debatermos com a categoria: qual a
necessidade e qual alternativa devemos construir para um sindicato forte e
combativo? Como os setores majoritários não cumpriram com o papel de vanguarda,
nas lutas recentes da categoria, principalmente, na greve de 2013 do Município
e do Estado do Rio de Janeiro, quando posturas equivocadas nos deixaram à mercê
das decisões do STF, e, na greve seguinte em 2014, houve o recuo deixando a
categoria desprotegida contra as ações de Eduardo Paes e Cabral/Pezão. Sabemos
que a onda de greves após as Lutas de Junho e Julho de 2013 potencializou um
avanço no nível de consciência de classe da categoria e desmascarou o papel dos
governos. Por exemplo, o ex-governador Cabral não apareceu em nenhuma
propaganda do seu parceiro Pezão nas eleições para o Governo do Estado em 2014,
o que significa que a greve dos profissionais da educação serviu para ampliar o
debate da falta de comprometimento com a população e do comprometimento total
com os interesses dominantes.
Nesse
processo, a postura muitas vezes de conciliação e recuada dos setores
majoritários da direção de nosso sindicato (PSTU, setores do PSOL) assustou a
categoria, que, devido à precarização sofrida na pele, sentiu a necessidade de
radicalizar nas lutas para poder conseguir vitórias concretas fundamentais para
melhoria da educação pública. Nesse mesmo momento, setores combativos da
categoria, analisando os erros da direção majoritária, se viram mais do que
obrigados a denunciar o papel da direção Majoritária do SEPE, aglutinando-se para
poder atuar no processo à esquerda, de forma consequente e coerente, muitas
vezes de forma independente da mesma. É preciso levar os trabalhadores à
construção de uma linha política que só nas manifestações de rua, enfrentando e
denunciando o papel dos governos aliados às políticas neoliberais e que atacam
os trabalhadores, poderemos avançar na construção de um projeto de educação que
atenda às necessidades dos trabalhadores.
Para tanto,
preconizamos a necessidade urgente de uma reflexão dos setores combativos da
esquerda, pois, em virtude do crescimento das forças conservadoras e da
direita, além do crescimento dos ataques diretos à classe trabalhadora, é
fundamental uma unidade. Todavia, entendemos que essa unidade não pode ocorrer
de forma superficial e superestrutural, mas deve ser construída e alimentada no
dia a dia, de forma dinâmica, com muito trabalho de base. O contexto que
vivemos não permite mais a repetição de práticas e concepções como o dirigismo
e a autoconstrução a qualquer custo que ainda perpasse as ações da esquerda,
onde os interesses imediatos do partido são colocados à frente das necessidades
e demandas da classe trabalhadora. No entanto, isso não significa negar a
relevância histórica e o papel ainda importante que os partidos de esquerda
possuem para a classe trabalhadora, pelo contrário, nossa posição vai no
sentido de valorizar e potencializar ao máximo o papel dos partidos na
vanguarda dos trabalhadores. Sendo assim, também não concordamos com os setores
que buscam a desconstrução da relevância dos partidos e de sua presença nos
sindicatos, negando os instrumentos históricos construídos por trabalhadores,
e, discordamos ainda mais dos setores que atuam no sindicato mas buscam a sua
implosão, negando a organização e ação política da classe, muitas vezes se
aproximando do individualismo e espontaneísmo reacionário e fascista que vemos
em nossa sociedade.
Diante deste posicionamento, o Sindicalismo Militante
opta por não compor nenhuma chapa para a direção do SEPE nessas eleições para
diretor. Não obstante a grande virada conjuntural de Junho e Julho de 2013,
grandes parcelas da esquerda combativa ainda não conseguiram assimilar o
ocorrido, repetindo os mesmos erros históricos, que culminaram em seu
distanciamento e ausência de referência da classe trabalhadora. Nessas
eleições, os blocos hegemônicos do PSOL e o PSTU, que compunham a direção
majoritária do SEPE neste último período, mantém as mesmas bases de ação que
tanto discordamos ao longo dessa gestão: unidade quando lhes convém e ação
isolada quando há a possibilidade de crescer isoladamente, onde os seus
interesses sobrepujam as reais demandas dos profissionais da educação. Além
disso, o horizonte de lutas cada vez mais limitado pela institucionalidade,
como o depósito de confiança no corrupto e corruptível Poder Judiciário,
demonstra as debilidades dessa gestão. Essas críticas aos companheiros são
fraternas, pois, ainda entendemos que eles compõem a esquerda combativa em
oposição ao governismo, logo, não descartamos às lutas conjuntas, pelo
contrário, conclamamos os companheiros a lutar de forma classista, aberta, com
uma unidade real, construída no cotidiano dos trabalhadores.
Em virtude do descontentamento da categoria com os
setores que compuseram a direção majoritária, surge um segmento de forma
bastante oportunista tentando canalizar esse descontentamento em prol de seus
interesses. Esse segmento é o governismo, com setores do PC do B e do PT, que
compõem e apoiam tanto o governo federal, quanto o governo estadual, e realizam
uma série de alianças com a direita pelo país, em especial o PMDB. Entendemos
que devemos denunciar também esses segmentos que se dizem combativos e
democráticos, mas que sustentam politicamente a aliança PT/PMDB/PC do B/PDT.
Não à toa, há a defesa do retorno à CUT e ao CNTE, onde ambos são signatários
do Plano Nacional de Educação, que busca a implementação da meritocracia e do
empreendedorismo e privatismo educacional.
Por fim, observamos que, nas duas últimas greves,
formou-se um grupo de profissionais da educação que, pelas condições objetivas
da precarização da educação, aliado ao descontentamento com a postura recuada e
conciliadora da direção majoritária do SEPE, se articulou e conseguiu uma
atuação política substantiva, muitas vezes superando as ações da direção. Esse
grupo de profissionais que nessas eleições consegue articular uma chapa já se
demonstraram extremamente combativos, sobretudo na greve de 2014. Todavia,
apesar de valorizar as ações desse grupo de aguerridos profissionais,
entendemos que não pode ocorrer uma negação do papel histórico dos partidos
combativos da esquerda, como muitas vezes vem acontecendo. Além disso, frente
às dificuldades conjunturais, acreditamos que os espaços para ações e
concepções espontaneístas não favorecem uma ação mais efetiva da classe
trabalhadora, pelo contrário, apesar de indicarem um avanço no processo de
consciência, na maioria das vezes, incorrem em benefícios para os grupos no
poder, pois, não possuem uma visão da totalidade social que engendra os problemas
específicos que a categoria atravessa, logo, acarretam na opção por opções
táticas e estratégicas ineficientes, que não resultam em um avanço real da
organização da classe trabalhadora.
A partir dessa análise, afirmamos que, para nós, mais
importante do que participar nas eleições para a Direção do SEPE e corroborar
com o que acreditamos ser equivocado nas posições de nossos companheiros, é
defender uma perspectiva possa significar em avanços para a classe. Nesse
momento extremamente delicado para a esquerda combativa, propomos que os
companheiros reflitam sobre o papel da esquerda e a possibilidade de ações
efetivas, onde acreditamos que somente uma ação conjunta da esquerda combativa,
superando o espontaneísmo, o hegemonismo e a autoconstrução a qualquer custo,
possa propiciar aos trabalhadores a organização que possibilite além da defesa
dos direitos já adquiridos, o avanço em conquistas efetivas. Com o
fortalecimento crescente da direita aproveitando-se do desespero, desilusão,
desesperança e medo do senso comum que repercute sobre a classe trabalhadora, a
pulverização e fragmentação da esquerda que é comprovada pelo grande número de
chapas candidatas à direção do SEPE só tende a enfraquecer as lutas organizadas
dos trabalhadores.
Dessa feita, nossa participação no processo eleitoral
do SEPE, e na militância do dia a dia do sindicato, não ocorrerá mediante a
integração em uma chapa, mas no fortalecimento de um sindicato combativo,
autônomo e classista, defendendo um projeto de educação pública e gratuita a
serviço da classe trabalhadora e com vistas à superação da sociedade e da
sociabilidade capitalista.