terça-feira, 20 de julho de 2010

Somos todos do CIEP Rubens Gomes


“Um sistema de desvínculos: para que os calados não se façam perguntões, para que os opinados não se transformem em opinadores. Para que não se juntem os solitários, nem a alma junte seus pedaços...

O sistema esvazia nossa memória, ou enche de lixo, e assim nos ensina a repetir a história em vez de fazê-la. As tragédias se repetem como farsas, anunciava a célebre profecia. Mas entre nós,é pior: as tragédias se repetem como tragédias”. (Eduardo Galeano)


Na última sexta-feira, nosso aluno Wesley faleceu dentro da sala de aula, vítima do descaso dos governos e de uma bala “achada” durante “ação” policial. Cada um de nós que já saiu com os alunos rastejando pelo chão da escola, em busca de um local menos vulnerável ao tiroteio, ou que ficou cantando para acalmar os alunos e minimizar seu próprio pavor, sabe o que aconteceu.


Talvez quem não saiba é quem deveria nos proteger: a polícia, os governantes.


Mas para eles tanto faz. Não importa se Wesley tinha uma vida inteira pela frente, como ficarão os pais, como ficarão os alunos e os trabalhadores da escola. O importante são as metas, o desempenho. Crianças são só estatísticas, diretores de escola tem que ser gestores de empresa, profissionais de educação são fabricadores de índices.


Se os funcionários adoecem por conta das péssimas condições de trabalho, a solução é contratar a Comlurb. Afinal se adoecerem é problema do INSS. Se os alunos não aprendem a culpa é do professor que não planeja. Afinal temos uma média de 6 minutos por dia para isso. Alunos das Escolas do Amanhã tem aula com voluntários e oficineiros. Afinal quem mora em comunidade não merece um ensino de qualidade. Que triste concepção de educação.


Para nós a luta por uma educação pública de qualidade e a construção de uma sociedade mais justa é o mais importante.


Não precisamos de cursos para nos ensinar como agir em situações de risco.


Não precisamos do desvio de verbas para OS’s, Institutos e Fundações. Precisamos de respeito. Exigimos ser ouvidos. Estamos cansados. Não admitiremos mais que nossos alunos morram por causa da negligência dos governantes.


As operações policiais ocorrem de forma diferenciada de acordo com a região da cidade. Na zona sul é de um jeito, nos locais mais desassistidos de outro. A violência imposta nestas "ações onde atira-se primeiro e pergunta-se depois, revela o descaso que os governo tem com a vida dos milhares de trabalhadores que moram em comunidades. É a política de um governo que já afirmou que mulheres pobres “são fábricas de marginais”.


O que os governos devem fazer é garantir empregos, salários dignos, saúde e educação pública para toda à população.


Há anos o Sepe denuncia e cobra dos governos medidas para a solução dos problemas da violência nas escolas e creches. Uma infinidade de documentos foi entregue à Prefeitura, ao Ministério Público e ao parlamento. Inúmeras vezes alertamos sobre os riscos que poderíamos sofrer. Infelizmente nenhuma medida foi tomada.


Diante de tamanha calamidade o Sepe e toda a sociedade cobram dos governos a responsabilidade por este falecimento.


Não basta agora lamentarem o ocorrido, pois estes fatos são de sua responsabilidade. Não adianta blindar escolas. E se o aluno estiver na quadra? E se estivesse saindo do refeitório? E se estiver no caminho para casa?


Se os governos realmente se importam com a educação, que marquem uma audiência pública com o Sindicato e a categoria, para garantir nossa pauta de reivindicação e ouvir nossas propostas.


Exigimos emergencialmente:

- Contra a criminalização da pobreza;

- Fim das operações fascistas nas comunidades;

- Redução do quantitativo de alunos por turma e construção de novas unidades;

- Autonomia para o não funcionamento das escolas em casos graves, sem pressão da CRE ou SME;

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação

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