Nós que participamos do Sindicalismo Militante desejamos a todos uma ótima comemoração na passagem de ano. Que 2011 seja de muitas conquistas pessoais e muitas lutas pela educação pública, por melhores salários para professores e funcionários, por melhores condições de trabalho nas escolas e por um projeto de educação pública que possa realmente contribuir para transformar a realidade de profunda desigualdade social e avanço do neoliberalismo que vivemos!
Desde 2004, ano em que ainda me encontrava cursando a Graduação, não havia concursos para o meu cargo (Professor 1 - Educação Física) para o município onde nasci, estudei, fui criado e até hoje resido, conhecido internacionalmente como a Cidade Maravilhosa. Enfim, em 2010 o concurso foi realizado e obtive êxito. No dia 25 de outubro, tomei posse e sou desde então funcionário público da capital fluminense.
No final de semana, folheando as páginas do jornal, deparo-me com a notícia de que a Prefeitura do Rio de Janeiro, atualmente gerida por Eduardo Paes/PMDB, realizará no próximo sábado um evento de final de ano(1).
A primeira questão a se levantar é que tal evento não permitirá a presença e a participação de todo o seu corpo de trabalhadores. Quem estivesse interessad@ deveria participar de um sorteio, que contemplaria 15.000 funcionári@s, cada um(a) destes(as) podendo levar acompanhante. O show, que ocorrerá na Praça da Apoteose, terá como contratado o cantor sertanejo Luan Santana, cuja existência soube há poucos meses. E aí está a segunda e principal questão, que me incentivou a tecer alguns comentários:
a) a maioria do público-alvo do artista certamente está concentrada na faixa etária abaixo dos 18 anos, ou seja, público não composto por funcionários públicos;
b) além de não consultar o que seus funcionários gostariam de ganhar como presente de Natal, a Prefeitura escolhe, a seu critério e arbitrariamente, quem será o artista; contratando-o por intermédio da empresa Cunha Locação de Equipamentos, propriedade do produtor Daniel Alves;
c) o total de gastos com o evento custará cerca de R$1.300.000,00 aos cofres públicos(2);
d) apenas o cachê e gastos de deslocamento de Luan Santana custarão aproximadamente R$525.000,00(2).
Recentemente, alavancado por uma ascensão meteórica à fama, o referido cantor adquiriu um jato particular, com valor avaliado em R$3 milhões, para poder realizar suas dezenas de shows e engordar sua conta bancária durante cada mês(3). E agora vemos a Prefeitura do Rio de Janeiro auxiliar nesse processo, prefeitura esta cujo professor I precisaria trabalhar numa matrícula de 16h semanais durante quase 389 meses ou cerca de 32 anos e meio para receber a quantia que Luan Santana receberá por algumas horas. Enquanto o jovem se desloca de jatinho, o professorado enfrenta salas de aula superlotadas, violência exacerbada, deslocamento por transporte público precário, engarrafamentos monstruosos e percebendo o desmantelamento da Educação Pública por meio da desvalorização do magistério, da Educação à distância e da privatização que favorece o terceiro setor.
Pois, quem tem algo a comemorar nesse final de ano?
Não tenho dúvidas de que a quantia de R$1.300.000 poderia e deveria ser melhor aplicada. Haverá alguma relação entre o governo municipal e/ou seu partido/coligação e a empresa de Daniel Alves? Enquanto essa grana, vinda dos impostos da população carioca, vai para os ares (a jato), a dita Cidade Maravilhosa transcende a desigualdade apresentada acima entre professores e Luan Santana: os contrastes são notados em cada itinerário que realizamos. Esse é o enredo desejado e necessário ao capital, modelo que devemos enfrentar, combater e superar! Não é possível que continuemos aceitando o enriquecimento de uma minoria a partir do trabalho da maioria.
Portanto, compartilho essa angústia para afirmar categoricamente que eu troco o show de Luan Santana por mais investimentos públicos na Saúde, na Educação, na Habitação etc. públicas Assim como eu troco todos esses Luans Santanas que se enriquecem às custas da classe trabalhadora por uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres, sem fome, miséria, desemprego nem desigualdade social!
O texto que a seguir publicamos nos foi enviado por uma professora da rede estadual do Rio de Janeiro. Por conta do assédio moral a que os profissionais de educação estão sujeitos frequentemente, a professora preferiu não assinar o texto, escolha que respeitamos, tendo em vista o desrespeito à liberdade de expressão dos dirigentes das redes públicas e a relativa fragilidade atual do sindicato para responder a esses ataques. Esperamos que o depoimento contribua para nos levar à luta (de forma ainda mais intensa) para construirmos uma nova realidade para os profissionais de educação e a educação pública.
Depoimento de uma professora - notas sobre a Assembleia do dia 18-09
Hoje ocorreu a minha segunda ida à Assembleia da rede estadual do SEPE. Quem dera que todo professor que entrasse na rede pública começasse assim, indo as assembléias logo nos seus primeiros meses. Mas isso não é mérito meu, devo isso a dois grandes amigos que me influenciaram e ainda influenciam na ideia de participar mais ativamente das questões que nos interessam de fato, a educação.
Sei que muito de nós temos nossos compromissos, mas acredito que seja fundamental que o professor que se sente indignado com o seu salário, com suas péssimas condições de trabalho, vá ao sindicato, sim, e lute por melhorias. É necessária a mobilização para que a sociedade seja transformada, para que o professor seja valorizado. É preciso que a gente se faça ouvir e não apenas ficar reclamando nas salas dos professores ou com amigos em qualquer lugar; é preciso lutar.
Então, hoje em minha segunda assembléia estadual da vida me deparei com diversos acontecimentos. Primeiro eu fiquei bastante irritada: por que marcam um horário que nunca é cumprido? Por que esse desrespeito com o professor, desrespeito com qualquer indivíduo? E não estou falando de minutos, estou falando de horas! Hoje a Assembleia começou com quase duas horas de atraso! Isso é um tremendo desrespeito ao funcionário da educação que vai à assembléia, que chega na hora e tem que esperar esta começar.
O meu primeiro contato direto com o SEPE foi na assembléia anterior, a do mês de Agosto. Havia uma mesa composta pela direção e esta queria a todo custo passar suas propostas, suas ideias e deixando de lado coisas que de certa forma causavam um incômodo. Era uma oposição aos seus pensamentos. A questão era em relação ao voto nulo. Um debate com os candidatos ao governo do Rio estava sendo articulado e surgiu a ideia de levar um representante do voto nulo. A questão no início foi negada, depois começou a haver um certo apoio em nome da democracia e no apagar das luzes, literalmente, ela foi aceita.
Ok, para a primeira assembléia até que foi tranquila. Apenas não curtem uma oposição. Esse foi o meu pensamento, mas hoje me deparei com coisas assustadoras. Ouvi de uma senhora hoje que os novatos vão às assembléias estaduais para tumultuar. Que não nos mobilizamos antes. Isso pra mim foi assustador, medo. Sim, medo daquela mulher loira falando. Sinceramente, ela tem idade pra ser minha professora e fico muito feliz de nunca ter tido uma professora como ela.
Eu criaria trauma e nunca conseguiria ocupar o papel que ocupo hoje. Voltando à assembléia... Essa mulher, junto com a direção do SEPE é contraria a ideia de paralisação em Novembro. A ideia de pessoas novas defendendo outras idéias, discordando da mesa, pareceu ser assustadora para tal mulher loira. Muitas pessoas realmente possuem medo do novo, medo de ficarem para trás, de não acompanhar os passos dos mais novos. Mas se todos nós somos de um mesmo sindicato, deveríamos estar somando forças e não segregar falando que no meu tempo não era assim.
Existe um contingente de novos professores entrando praticamente todo mês no estado. Muitos abandonam por causa dos baixos salários, mas alguns ficam e vão ao SEPE para fortalecer a luta do profissional de educação. Essas pessoas que continuam no estado, com salários baixíssimos deveriam ser valorizadas, o SEPE deveria ir atrás delas! Porque muitos têm medo de se mobilizar, enfrentar a direção e serem enviados para sua Metro de origem por estarem no estado probatório.
Minha escola deve ter no mínimo uns 60 professores e eu fui a única que parei. Não sei o que se passa na cabeça deles, sei que muitos são provincianos e, sem querer ser preconceituosa, o salário e a forma de trabalhar deve estar boa, adequada para eles. Sei que outros possuem o medo de serem mal vistos pela direção ou até mesmo por outros professores. Há, infelizmente, o senso comum de que ninguém para, então nunca ninguém há de parar. Sinceramente, triste, isso pra mim é muito triste. Terem a consciência que não ganham bem e não terem a consciência para se mobilizar e ir em busca de melhorias. Na minha escola, a biblioteca tem um horário bizarro de funcionamento. Na minha escola, os alunos não possuem acesso à sala de informática, mas à frente da escola há uma lan house.
Sabe, são coisas que me fazem querer questionar e eu tenho medo, sim. Medo da diretora parar de sorrir pra mim, medo de ser excluída das conversas. Eu sou minoria ali, mas fico pensando, nunca ninguém se questionou disso tudo? Como?
A minha formação vem de instituições laicas. Sempre estudei em lugares em que o normal é criticar algo quando se considera errado, a procura do melhor sempre, da discussão aberta. Eu aprendi a reivindicar, a defender o que eu acredito. E ao olhar as relações da minha escola, o assédio moral, o sábado letivo, a exclusão digital aos alunos fico triste demais, inconformada e simplesmente não sei o que fazer porque ainda não me sinto bem para questionar, me dá medo.
Por isso acredito que o SEPE seja um espaço para realizar tais denúncias como esta. Acredito que o sindicato seja para que possamos nos mobilizar a articular da melhor maneira a defesa do profissional e da educação também. Só é professor hoje quem quer, e tem que querer muito para continuar. Eu sinceramente já pensei em largar em menos de dois meses de sala de aula, mas não vou desistir.
Quero ensinar muito aos meus alunos, não apenas história, mas quero que eles entendam o mundo, que tenham um adulto próximo como exemplo, quero rir com eles, são adolescentes, cheios de vida, de histórias e destas muitas tristes e que precisamos continuar na luta por eles, para que eles continuem a estudar e saiam da situação de tanta pobreza.
E é por isso que acredito que todo professor que entra na rede pública deve ter como missão lutar por sua categoria, por sua classe como inteira, por melhorias no trabalho, por um salário digno, por vale transporte. Mas que a gente lute também pela educação, contra a precarização das escolas, pelo desenvolvimento dos nossos alunos.
As redes do Estado e do Município do Rio de Janeiro fazem paralisação dos trabalhos durante o dia 16/09, quinta-feira. Neste dia, ocorrerá a Marcha em Defesa da Educação Pública, com concentração marcada para 11h na Candelária, de onde os profissionais de educação sairão em passeata até a Cinelândia.
As redes aprovaram esta paralisação nas suas últimas respectivas Assembleias. Professores e funcionários da rede estadual continuam em luta por melhores salários e pela qualidade da educação pública, contra a desvalorização profissional, a privatização e sucateamento da rede levadas a cabo pelo governo Cabral/PMDB. Na rede municipal, o que continua a ser o eixo da mobilização é a luta contra o Projeto de Lei Complementar 41, apresentado pelo governo Paes/PMDB, que pode ser votado em breve. Vamos lutar e resistir para que o governo recue em suas intenções de precarizar a aposentadoria dos servidores municipais. (1)
Precisamos lutar para defender a dignidade das condições de trabalho dos profissionais de educação, considerando-se a relação direta entre as condições de trabalho e a possibilidade de realização de uma educação com qualidade, ou seja, uma educação pública que não figure entre as piores do país como ocorre atualmente, o que demonstram os recentes índices de IDEB e ENEM.
Somente a nossa luta pode transformar a realidade da educação pública no Rio de Janeiro! Vamos assumi-la!
Como foi decidido na última Assembleia da rede, na próxima quinta-feira, dia 26/08, acontecerá paralisação dos trabalhos de professores e funcionários. A grande motivação da paralisação é a tramitação do Projeto de Lei Complementar 41, elaborado pelo governo municipal, na Câmara dos Vereadores. Porém, temos outras questões relevantes diante das quais precisamos nos posicionar claramente, como a reivindicação do reajuste de 22%, a exigência da aplicação correta da verba pública na Educação (como não tem sido feito pelo governo), a luta contra os processos de privatização e terceirização do trabalho pedagógico do professor e da educação pública, além da exigência de medidas do governo em relação à violência nas escolas.
Vamos para o ato em frente à Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, manifestar nossa indignação diante dos caminhos do governo municipal e provocar mudanças nos rumos!
PARALISAÇÃO: 26/08 (QUINTA-FEIRA)
ATO: 26/08, ÀS 13H, EM FRENTE À CÂMARA DOS VEREADORES (CINELÂNDIA)
Textos antigos sobre a situação da rede municipal:
A reforma da previdência municipal: vamos lutar contra a precarização de nossa aposentadoria!:
O Sindicalismo Militante é um movimento de oposição de esquerda organizado por professores e funcionários da rede estadual e das redes municipais que atuam no SEPE-RJ.
Nosso marco de nascimento foi a greve da rede estadual de 2009, quando participamos ativamente das lutas e nos consolidamos como movimento de oposição de esquerda à direção do Sindicato.
Lutamos pela organização dos profissionais de educação a partir dos locais de trabalho, fundamental para fortalecermos as lutas dos professores e funcionários por melhores condições de trabalho e pela qualidade da educação pública (contra os processos neoliberais de precarização da educação realizados pelos governos Dilma, Cabral e Paes).